Quer trocar o seu veículo a combustão por um veículo elétrico (100% elétrico ou híbrido plug-in), mas não tem a certeza qual se adapta às suas necessidades? Saiba quais os aspetos relevantes que deve considerar antes de tomar a sua decisão.
Perante a escolha de um veículo elétrico – híbrido plug-in ou 100% elétrico – é importante considerar as suas necessidades diárias de mobilidade: número de km percorridos habitualmente, se o uso é feito maioritariamente em cidade ou em autoestrada e quais as condições para carregamento da bateria do veículo. Pensar apenas na autonomia máxima, binário do motor ou a que potência carrega o veículo, pode levar a decisões que, a longo prazo, provem ser menos adequadas.
Condução em Cidade vs Autoestrada
Um veículo elétrico é muito mais eficiente quando utilizado em meios urbanos, a baixa velocidade. O dito “pára-arranca” do trânsito é especialmente económico para um veículo elétrico, visto que a velocidade de arranque é baixa e a travagem regenerativa permite recuperar parcialmente essa energia enquanto o veículo abranda.
Em autoestrada, mesmo atingindo uma velocidade constante e regular, a bateria estará a alimentar continuamente o funcionamento do motor elétrico, o que diminui a autonomia do veículo.
Se o uso diário do veículo elétrico não ultrapassa uma média de 50 km diários (por exemplo), um veículo 100% elétrico com autonomia entre 200 e 300 km será o mais adequado, visto que teria de carregar a bateria, no máximo, duas vezes por semana (se quiser ter garantida autonomia, para evitar ansiedade). Para médias superiores a 50 km diários deverá considerar veículos 100% elétricos com autonomias superiores aos 200/300km.
Por exemplo, se a sua rotina consiste em percorrer centenas de quilómetros por dia em autoestrada e com acesso limitado a pontos de carregamento rápido, um veículo híbrido plug-in poderá ainda ser viável, mas por pouco tempo: desde o início do ano de 2023, foram ligados, em média, 46 novo postos por semana na rede de carregamento de acesso público (fonte: MOBI.Data), para além de muitos outros postos em redes privadas (empresas, concessionários, supermercados, etc.), a média de autonomia de um veículo 100% elétrico ligeiro de passageiros é de 400 km (entre os modelos comercializados em Portugal) e existem cada vez mais modelos de veículos ligeiros de passageiros com o valor de compra abaixo dos 30.000€.
São já muito raros os casos que justifiquem verdadeiramente a utilização de um híbrido plug-in. Se no passado a reduzida oferta de veículos 100% elétricos, a sua autonomia máxima, o crescimento mais demorado da rede de carregamento e o custo de aquisição de um veículo 100% elétrico podiam equilibrar a balança para os veículos híbridos plug-in na hora da decisão, contudo, hoje, esses motivos só são relevantes em condições muito particulares.
Condições de Carregamento
As condições que terá disponíveis para carregar o seu veículo elétrico têm grande importância no momento de escolha de um veículo 100% elétrico ou híbrido plug-in. É comum ouvirmos o argumento que, se um utilizador não tiver condições para carregar diariamente a bateria do seu veículo 100% elétrico, é melhor optar por um veículo híbrido plug-in, quando é precisamente o oposto. Um veículo híbrido plug-in tem uma bateria mais pequena – logo, com menor autonomia (em média, 50 km) – e, portanto, necessita de ser carregada diariamente em casa ou no local de trabalho, para evitar ter de utilizar somente a motorização a combustível fóssil quando não tem bateria para alimentar o motor elétrico. Um veículo híbrido plug-in a circular com uso exclusivo do motor a combustão é mais ineficiente em comparação à sua utilização com a combinação de motor elétrico, pois o motor a combustão está a deslocar o peso do carro com a adição da bateria e motor elétrico – que não estão a ser usados.
No caso de um veículo 100% elétrico – por exemplo, com 300 km de autonomia – para um uso diário de 50 km, pode ser carregado num posto rápido na rede de carregamento (durante, mais ou menos 30 minutos), duas vezes por semana. Este carregamento pode ser conjugado com outra atividade da sua rotina em que o veículo fica parado a carregar enquanto faz outra coisa (compras, ginásio, cinema, etc.). A maioria das superfícies comerciais ou supermercados já dispõe de postos de carregamento nos parques de estacionamento, em adição à restante rede de carregamento – em constante crescimento – onde é possível encontrar HUBs de carregamento (com vários carregadores rápidos) ou áreas de serviço com carregadores ultrarrápidos. É cada vez mais fácil encontrar um local onde carregar o seu veículo 100% elétrico e encaixar esse carregamento num momento da sua rotina. Adicionalmente, com a evolução tecnológica dos veículos 100% elétricos, a potência de carregamento que estes veículos atingem é cada vez maior, o que encurta cada vez mais o tempo de carregamento em postos rápidos, super rápidos ou ultrarrápidos.
É comum ouvirmos o argumento que, se um utilizador não tiver condições para carregar diariamente a bateria do seu veículo 100% elétrico, é melhor optar por um veículo híbrido plug-in, quando é precisamente o oposto.
No caso de um veículo híbridos plug-in, a potência a que este carrega é consideravelmente mais baixa (AC – Corrente Alterna), logo, demora cerca de 4 a 5 horas a carregar a totalidade da bateria. Idealmente, o carregamento da bateria de um veículo híbrido plug-in deverá – para que não impacte a sua rotina diária – ser efetuado durante a noite, durante horário de trabalho ou durante um período do seu dia em que não necessite do veículo durante essas horas. Adicionalmente, um veículo híbrido plug-in não deve carregar nos postos Rápidos (potência acima de 50 kW em DC – Corrente Contínua), simplesmente porque não carrega mais rapidamente, independentemente da potência do posto; de salientar ainda que nem todos os postos de carregamento dispõem de tomada AC (onde é possível ligar um veículo híbrido plug-in) e, nos casos em que permite, esse carregamento será substancialmente mais caro do que o carregamento efetuado num posto de carregamento normal (potência até 22 kW em AC – Corrente Alterna).
Naturalmente, se tiver como carregar um veículo 100% elétrico em casa ou no trabalho, para além de ser mais cómodo, é mais económico, mas, optar por um veículo híbrido plug-in por não ter forma de carregar diariamente (em corrente AC, durante 4-5 horas) revelar-se-á uma má decisão a curto prazo.
Descontos em estacionamento
Os veículos 100% elétricos beneficiam de vários descontos e benefícios no estacionamento em vários municípios. Embora os veículos híbridos plug-in tenham acesso a algumas isenções no estacionamento, são menos que as aplicadas aos veículos 100% elétricos.
Nas grandes áreas metropolitanas, é comum ser necessário adquirir um selo específico para a isenção da tarifa de estacionamento, contudo, na maioria dos casos onde é aplicável a isenção de estacionamento, basta ter o Dístico Identificativo de Veículo Elétrico emitido pelo IMT, gratuitamente, disponível para veículos 100% elétricos ou híbridos plug-in.
Desde 2015, com a aprovação da Fiscalidade Verde, que os veículos 100% elétricos e híbridos plug-in beneficiam de vários benefícios fiscais. Os veículos 100% elétricos beneficiam de isenção de ISV – Imposto Sobre Veículos e IUC – Imposto Único de Circulação. Desde 2021, os veículos híbridos plug-in pagam 25% do ISV (com o mínimo de 50 km de autonomia em modo elétrico e máximo de 50g CO2/km de emissões) e não têm isenção do IUC.
Isenções e Benefícios fiscais
Relativamente à dedução do IVA – Imposto de Valor Acrescentado, é aplicável apenas aos veículos ligeiros de passageiros adquiridos por pessoas coletivas, ou singulares com atividade empresarial, desde que o custo de aquisição não exceda os 62.500€ nos veículos 100% elétricos, e os 50.000€ nos veículos híbridos plug-in.
Nota: a dedução do imposto só é possível nos casos em que a atividade exercida possibilite essa dedução e aplica-se apenas ao valor de aquisição e aos gastos com os carregamentos de eletricidade. Em todos os outros gastos de utilização dos ligeiros de passageiros, não é possível exercer o direito à dedução do IVA desses dispêndios.
No caso da Tributação Autónoma aplicável às empresas e às atividades empresariais em nome individual, mais precisamente aos sujeitos passivos do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas (IRC) e do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS), nos encargos com viaturas ligeiras de passageiros, os veículos 100% elétricos e híbridos plug-in beneficiam de determinadas isenções, segundo as seguintes regras:
Veículos ligeiros de passageiros 100% elétricos: as viaturas com custo de aquisição até 62.500€ estão 100% isentas. Os veículos 100% elétricos com valor de aquisição superior a 62.500€ estão sujeitos a uma taxa de 10%, face à isenção de 2022.
Veículos ligeiros de passageiros híbridos plug-in: as viaturas com autonomia mínima de 50 km em modo elétrico e emissões inferiores a 50 gCO2/km, as taxas aplicáveis são de 2,5% (para veículos com custo de aquisição inferior a 27.500€); 7,5% (custo de aquisição entre 27.500€ e 35.000€, inclusive) ou 15% (custo de aquisição igual ou superior a 35.000€) do valor do imposto.
Manutenção do veículo
Os custos de manutenção de um veículo 100% elétrico são consideravelmente mais baixos que dos veículos híbridos plug-in, simplesmente devido à ausência de um motor a combustão – visto que este necessita de mudança de óleos, velas, filtros, etc.
Um veículo híbrido plug-in têm o melhor e o pior de dois mundos, ou seja, tem um motor elétrico que necessita de baixa manutenção, mas também tem um motor a combustão interna e este será sujeito a revisões periódicas como qualquer veículo a combustão interna.
Anualmente, ao nível do motor elétrico, um veículo 100% elétrico ou híbrido plug-in, não necessita de manutenção, visto que o motor elétrico tem apenas duas peças móveis (rotor e estator) que não são peças que sofram desgaste anualmente. Para que os elementos de um motor elétrico sofram desgaste ao ponto de serem substituídas, serão necessárias centenas de milhares de quilómetros.
Quanto ao motor de combustão – que tem em média 350 peças móveis – é recomendado efetuar uma revisão do mesmo a cada 6 meses ou a cada 10.000 km percorridos (o que ocorrer primeiro), para retificar a saúde dos vários componentes essenciais ao correto funcionamento do motor: óleo, velas, filtro de ar do motor, filtro de combustível, etc. Adicionalmente, outras peças como a correia de distribuição, caixa de velocidade, embraiagem, cambota e outros elementos mecânicos dos motores a combustão interna torna-os mais falíveis e sujeitos a maior manutenção. Por isso, quando considerar adquirir um veículo híbrido plug-in como substituição do seu veículo a combustão interna, recorde-se que manterá o encargo associado à manutenção do motor a combustão, mesmo que use maioritariamente a vertente elétrica do veículo
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É importante referir ainda que um veículo elétrico sofre menos desgaste a nível dos pneus e travões quando comparado com um veículo equivalente a combustão interna, isto acontece porque os veículos 100% elétricos e híbridos plug-in dispõem de travagem regenerativa em que motor elétrico é usado para abrandar o carro no momento de desaceleração, gerando energia que regressa à bateria.
Emissões do veículo
Podemos facilmente apresentar mais vantagens económicas dos veículos 100% elétricos ou híbridos plug-in, sem ter que necessariamente referir a ausência de emissões poluentes dos mesmos (no caso dos híbridos plug-in, quando estes circulam exclusivamente em modo elétrico), contudo, não deveria ser este o motivo que determina a sua escolha?
Para quem trabalha ou reside em grandes centros urbanos, a diminuição das emissões locais de gases nocivos provenientes dos veículos em circulação (que incluem veículos ligeiros de passageiros, veículos partilhados e transportes coletivos) é verdadeiramente urgente. O setor dos transportes, em particular o transporte rodoviário, é a principal fonte de poluição do ar nas áreas urbanas de Portugal, contribuindo para 6.000 mortes prematuras no país a cada ano e um total de 300.000 na Europa (fonte: OMS). Embora tenhamos casos em Portugal onde estão delimitadas Zonas de Baixas Emissões, estas não restringem a totalidade dos veículos poluentes pois as restrições são aplicadas por ano de matrícula, independentemente da motorização. Naturalmente, aos cidadãos que não têm como substituir o seu veículo de combustão, por um veículo elétrico, é cada vez mais importante que disponham de alternativas eletrificadas para as suas deslocações diárias (comboio, metro, elétrico, autocarros elétricos, sistemas partilhados de mobilidade suave, etc.). Contudo, para os utilizadores que dependem exclusivamente do uso de um veículo ligeiro de passageiros ou mercadorias para as suas deslocações diárias, é importante que seja feita a transição para um veículo eletrificado: 100% elétrico ou híbrido plug-in.
Já pensou nas suas resoluções de Ano Novo? Comece por avaliar a troca do seu veículo a combustão interna por um veículo elétrico, não só pela poupança que isso representa, mas principalmente pelo benefício que traz à saúde de todos.
Não seja fóssil. O futuro é elétrico. Fonte: UVE.
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